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24 de mar. de 2012

Síndrome de Irlen - Universidade Federal de Minas Gerais

Distinção providencial
Estudo premiado em simpósio de neurociências busca evitar falsos diagnósticos de dislexia

Itamar Rigueira Jr.
Efeito de distorção dá ideia das dificuldades enfrentadas pelos portadores da Síndrome de Mears-Irlen

A dislexia, dificuldade na aprendizagem da leitura, tem impacto negativo importante na vida de uma pessoa. Quase sempre, provoca atrasos na formação escolar e leva à baixa autoestima. Há algum tempo, entretanto, sabe-se que alguns sintomas da dislexia coincidem com os de uma dificuldade ligada à visão, a Síndrome de Mears-Irlen (SMI), e que isso pode levar a erros de diagnóstico. O objetivo passou a ser o de descobrir quem, entre os supostos disléxicos, é portador (somente ou também) da síndrome, cuja reabilitação é rápida e barata.


O tema reuniu pesquisadores da UFMG, da PUC Minas e do Hospital de Olhos de Belo Horizonte – serviço de referência para a SMI –, que tiveram trabalho premiado no 3o Simpósio do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da Universidade, realizado em setembro. O estudo Prevalência da Síndrome de Mears-Irlen em portadores de dislexia teve o grande mérito, segundo a professora Leonor Bezerra Guerra, que participou do trabalho, de levar à comunidade científica informações sobre um assunto que no Brasil ainda é pouco estudado. “A dislexia implica elaboração de toda uma estratégia alternativa de aprendizagem, e agora o problema pode ser resolvido de outra forma”, ela afirma.


A Síndrome de Mears-Irlen foi identificada na década de 1980, nos Estados Unidos, pela pesquisadora Helen Irlen, e somente há cinco anos começaram a chegar ao Brasil informações sobre o distúrbio visual-perceptivo que parece ter como base neurológica um déficit no córtex visual primário. Assim como a dislexia, a SMI é um comprometimento neurológico ligado ao sistema nervoso central. A pessoa tem dificuldade de decodificar os sinais luminosos e recebe mensagens distorcidas, o que resulta em problemas relacionados à leitura e à escrita. A síndrome e a dislexia estão associadas a áreas cerebrais diferentes, segundo a professora Leonor Guerra: enquanto a SMI é uma falha localizada entre a sensação e a percepção, a dislexia afeta o espaço entre a percepção e a análise.

O trabalho avaliou a prevalência da SMI em pacientes diagnosticados com dislexia e encaminhados ao Hospital de Olhos – 28 (75,7%) do sexo masculino e nove (24,3%) do sexo feminino, alfabetizados, com idade média de 11,8 anos. Os resultados mostram prevalência de SMI em 93% (34) dos pacientes, percentual considerado muito elevado em relação ao que aparece na literatura (44% de comorbidade). A conclusão é de que a amostra estava “viciada”, pelo fato de o Hospital de Olhos ser um serviço de referência e receber pacientes previamente triados.

Ainda assim, os resultados do trabalho foram considerados extremamente relevantes. “A coexistência de sintomas reforça a necessidade de disléxicos serem avaliados pela metodologia Irlen, evitando diagnósticos falso-positivos nos casos de SMI e, ao mesmo tempo, conscientizando os profissionais da área sobre a possível coexistência de ambas as entidades”, afirma Laura Niquini de Faria, fonoaudióloga e mestranda em neurociências pela UFMG.
Nas escolas

A pesquisa de mestrado de Laura Niquini prevê a continuação dos estudos sobre a prevalência da Síndrome de Mears-Irlen em crianças disléxicas. O objetivo é avaliar cerca de 150 crianças em escolas de Belo Horizonte, identificando dificuldades de leitura, investigando os motivos e utilizando os tratamentos disponíveis. Um deles consiste na aplicação de transparências sobre folhas de papel para tarefas de leitura. Elas propiciam mais conforto e contraste ao portador da SMI fazendo que os sintomas sejam bastante minimizados. Outra forma de tratamento vale-se de óculos especiais, com ou sem grau, de lentes que funcionam como filtros. “Eles exigem uso constante e possibilitam neuroadaptação muito rápida e significativa”, afirma Laura Niquini.

Os progressos podem ser medidos pelo Eye-tracker, equipamento que está sendo desenvolvido pelo Laboratório de Bioengenharia do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG. Por meio de sensores infravermelhos, o aparelho fornece informações como número de palavras lidas por minuto e nível de compreensão de um texto. Segundo a pesquisadora, depois de um ano de uso dos filtros, o portador da SMI apresenta melhora substancial com impacto na leitura e no conforto em atividades visuais.

Além de verificar a incidência da Síndrome de Mears-Irlen, Laura Niquini de Faria pretende conhecer a capacidade que os professores têm de lidar com as dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita de seus alunos. Ela lembra que os primeiros sinais, tanto da dislexia quanto da SMI, aparecem na primeira infância, mas apenas mais tarde, com as demandas escolares, fica evidente que algo está errado. “Com o passar dos anos, os sintomas se agravam, por isso é tão importante o diagnóstico precoce e preciso, que possibilita aprendizagem menos traumática, livre de críticas e cobranças que trazem problemas emocionais”, completa.

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